23.9.05

Escrever o que penso

Escrever o que penso
Me leva a lugar algum
Já nem sinto mais o que vejo
Nada aqui e lá nenhum

Dizer o que sinto
Faz me mudo e singular
Não sou eu quem minto
Nem o que meus olhos estão a lhe falar

Fazer o que desejo
Foge à alma, vai e volta
Você não é como eu vejo
É como minha mente se revolta

Ver o que a visão nota
Dói além e o âmago corta
Você não há, não nesta rota
Sua ausência meu coração não suporta

Recordar o que tenho
É ouvir uma triste canção
Já não sei por onde venho
Mas sei que é por você a minha razão.

(...) Saudades da minha Paty (...)

6.9.05

Bela dama que no meu coração habita, me diga como, entre todas as possibilidades desta vida carnal, é você quem sinto me visitando todas as noites, como se fosse real? Me diga como, apesar de toda a vida que me cerca, é em você que penso a cada instante que passa? Me diga porque, depois da minha esperança ter-se ido, sinto medo por algo ainda não vivido? Não, não precisa dizer. Em algum lugar eu sei. Isso tudo não seria assim se você não tivesse vindo a mim. Nada na vida nunca pareceu contínuo e equilibrado e ter te conhecido está deixando isso ainda mais complexo, mas de alguma forma existe uma incomparável harmonia que nos faz caminhar em estradas paralelas. Mas o que eu realmente quero é percorrer na mesma estrada, ao seu lado. Isso tudo é tão insano que nem real é. Mas onde está o brilho da vida senão nas suas repentinas loucuras que nos fazem do avesso? Onde estão os melhores momentos senão naqueles que, mesmo nos dando dúvidas e medos, nos fazem saborear os mais deliciosos frutos? A luz que o dia brilha neste momento é incomparável a qualquer outra, pois aquece-me com tua incandescente imagem, ainda que estática, em um mundo que nunca mais será como antes. Depois de você, nada mais é similar. Nada mais é concreto. Tudo a volta é um torvelinho subjetivo que só aumenta o meu desejo de te tocar, te sentir. Sou eu, além da linha da razão, agradecido por você existir.

31.8.05

Você, por não ter

Perturbada por sua presença
Minha mente confunde-se, sem saber
Que tudo está em sua ausência.
Não há vida feita que se possa ver
Através de um caminho emergido na distância
Como se apenas esta visão pudesse crer
Nesta aurora que me faz viver.

Não entendo. Não posso voltar.
Isto foi sempre tão frio e solitário.
Onde está a diferença, se não posso te tocar?
No desejo de com você estar
Ou na insanidade que faz lhe imaginar?

Lá fora não existe por não ter
Em toda sua forma algo que se possa ver
O seu contorno, o seu sorriso, o seu olhar
Posso ir mas não irei retornar
Apenas assim, continuarei a sonhar.

6.8.05

Eu posso usar uma confissão para expelir o oportunismo. Eu posso manipular uma decisão para desfazer a avidez. Eu posso contradizer a exatidão para arruinar a gratidão. Eu posso, enfim, perpetuar a angustia para aquele que afronta a própria sorte. Sorte esta lançada a uma hegemonia proveitosa, cuja esperteza é invisível a belos e tolos.

Diante a um ângulo que assombra a crueldade, não posso mais que ninguém, porém sei mais que alguém. Sei que o torvelinho do pensamento infantil adquiriu, através de uma traição, uma chama para o futuro próspero. Sei que a imaturidade tentou roubar-me a forma, fazendo-se amigo, quando na verdade era um rebento embevecido. Sei que tal gratidão oculta, em sua mais fina condição, um riso irônico, uma tentativa de causar submissão. Quando o tempo para, me pergunto como pode ser tão ávido a ponto de julgar-se superior a própria crença. Crença essa que, erroneamente, levará este e todo o rebanho para a uma fétida surpresa. A soberba deve estar alegremente flutuando pelo invisível, pois não ao acaso, o vento frio corta a singularidade e traduz um certo ceticismo em um eloqüente desvio.

Do mesmo lado da ponte, outrem, cuja aceitação ao fracasso chega a ser estapafúrdica, pinta a calçada na mesma tonalidade. Contorna um traçado que, subitamente, se estreita para a miragem de uma promessa tola. Eles acreditam. Eles seguem. Nesta linha, há algo que, gradativamente, alimenta meu ego negro - a certeza de que o início está fadado ao fim. E não distante. Pois estou do outro lado da ponte. Estou vendo.

29.7.05

Começando...

O tempo flui através das vidas que me contornam e entona um brilho que me causa náuseas. Sim, confesso, tal luz me ofusca devido a uma cobiça que, mesmo não admitindo, existe em algum lugar na minha mente. Me esforço para entender como o ciclo caminha para sua conclusão lá fora, porém aqui não exibe nem vestígios de que irá emergir. Lá, não muito distante daqui, a pureza da inocencia mistura-se com o ardil da carne, olhares se flertam e almas se conjugam. Ao mesmo tempo, tudo é exposto à ruinas e o adeus emite, sem querer, a sensação de que tudo nessa vida é passageiro. Porém, o tempo é fugaz e astuto, quase nunca deixando que a linha que compreende o ciclo seja desviada. É assim que, devido a uma insanidade conformada, deixo o tempo esvair diante meus pés.

Enquanto sons e imagens formam harmonicamente uma coreografia, meus pensamentos e sentidos conflitam, em uma interminável batalha. Quanto mais velho o tempo terá de ficar para que seja extinta essa sina que me persegue? Quão mais jovem o futuro terá de ficar para que o espaço entre minha existência e a que mundo acolhe diminua? Quantas chuvas mais escoarão em meu rosto até que as dúvidas se cessem e a luz quente invada minha alma?