26.9.03

Óh quão caro me custa o entender-te
Camões


Oh! quão caro me custa o entender te,
molesto Amor, que, só por alcançar te,
de dor em dor me tens trazido a parte
onde em ti ódio e ira se converte!

Cuidei que para em tudo conhecer te,
me não faltasse experiência e arte;
agora vejo n'alma acrecentar te
aquilo que era causa de perder te.

Estavas tão secreto no meu peito
que eu mesmo, que te tinha, não sabia
que me senhoreavas deste jeito.

Descobriste t'agora; e foi por via
que teu descobrimento e meu defeito,
um me envergonha e outro m'injuria.

Quando todas minhas esperanças findaram e minha vida viu-se só, a única coisa que sobrara era um árduo calor, que fulminava minha alma. E, após as tempestades finais, tudo não passava de pó, exceto meu sentimento por você - era o amor que nunca morria.

[Listening to: Pete Yorn - Strange Condition - Pete Yorn - Me,Myself & Irene Soundtrack (04:33)]

23.9.03

I'm

22.9.03

Subitamente apareceu, e se despediu.
Peterson Foka


Eu estava sozinho e você apareceu
Me fez sorrir na triste noite
Embaixo do orvalho ofereceu a mão
Odeio lhe dizer, mas você me fez sentir
Que há calor na gélida escuridão
Subitamente apareceu, e se despediu.

Suas palavras me confundiram
Ainda hoje tendo endendê-las
Alimentando a voz que ecoa em minha mente
Com medo de não ouví-las novamente
Morrerem sem explicações
Subitamente apareceu, e se despediu.

Você mentiu enquanto me despertava
Tentando me fazer melhor - não compreendo
Seu contorno é como minha infância
Amo ouvir sons deste passado
Teu olhar transfoma o real naquela inocência
Subitamente apareceu, e se despediu.

O estrato do teu tempo penetrou em mim
Em minha mente vejo e sinto o pânico
Não posso recitar o desejo de minha alma
Ela jamais quis te encontrar
E agora não pode dizer adeus
Subitamente apareceu, e se despediu.

Esforço-me em crer
Que você é apenas uma outra garota
Como ignorar que a minha salvação é a minha derrota?
Poderia eu viajar ao mais longínquo
De nada adiantaria, seu olor é inacabável...
Subitamente apareceu, e se despediu.

Em vão minhas lágrimas não caem
Suportar este ardor é suicidar-me, lentamente
Ainda vejo-te no colorido jardim
Despedindo-se sem sofrer o rasgo no peito
Meu horizonte jamais será semelhante
Você não era apenas uma outra garota.

[Listening to: Lose You - Pete Yorn - Music Morning After (04:36)]

19.9.03

Ao tardar escreverei, de que tumba não sei, a lição que ensinei a consciência própria que lapidei. Neste ensejo falta-me inspiração para socorrer ao abandono que cerca este lar, e talvez ao amanhecer nada tenha mudado. A minha indignação parte do momento em que, como chuva repentina, idéias explodem e pendem a vontade minha a escrever, porém, sou um pássaro na gaiola e meu desejo nada mais é além de forças desperdiçadas. Uma vez que os estilhaços esvaecem em minha visão, nada mais sobra além de um vazio e descontentamento por não ter registrado a história que se esqueceu. Agora, no entardecer do meu âmago, vou-me embora para a última empreitada deste dia. Que os anjos me observem, e as trevas que se escondam.

11.9.03

Perdi o rumo, a razão desta empreitada ao defrontar a sombra deste infame ninho da tua prole. O que viste agora, senão a loucura em conhecer o teu amanhecer e compará-lo à nódoa de minha estigma? Ah, não há dor pior em sentir-se apunhalado pela condescendência e sujar os joelhos no cacoso lençol que camufla o meu velório. Ali há a trama, o engendro, o suborno que faz da lepra um saboroso prato para festejar minha ida. Há fanfarra e demasiadas gargalhadas ecoando em minha mente, instigando o meu retorno e minha vingança. Sim, vingar-te-ei por tudo o que não foste deveras. Recordará da tua covardia, porém arrependerá do arrependimento que não mais vive? Teu sangue mergulhou-se em tão negra composição que não mais causa sombra ao teu provedor. Teu intento e lascívia virão a tona antes de morrer a negritude que nos cerca e aprenderás a não desprezar o que não lhe parece capaz. Esta será minha doce vingança. Se a penitência não lhe cabe como adjetivo, então afunda tua fronte três vezes ao solo contaminado por vermes que desejam tuas entranhas. Se a podridão adolesce teu seco ego, então o rumo já é sabido. Cairá como pó, misturar-se-á na terra lançada para cobrir os teus inimigos. Ficarei curado da insanidade e vingado de tua estirpe. Torpe estirpe.

[Listening to: High Wire Escape Artist - Boysetsfire - Daredevil (03:48)]

6.9.03

Endo - Simple Lies

Lost in gliches
Demeaning of purpose
Tied so tight
It's trying to expire
Lack of faith
A greater imagination
A perfect perseption
Of cats raining
Photographs of you....of you
Besides, Besides
Simple lies
Are what we are
And what we have
Won't hurt anymore
Simple lies
Are what we are
And what we have
Won't hurt anymore
Silently waiting
For a moment with you
As I tie you into nothing
Understand my hate for you
What is wrong
Oh, what is right
I push you through
I can't live with or without you
Besides, Besides
Simple lies
Are what we are
And what we have
Won't hurt anymore
Simple lies
Are what we are
And what we have
Won't hurt anymore
When something keeps us alive
We rest till death
I try to keep myself back
Together again
Besides, Besides
Besides, Besides
Simple lies
Are what we are
And what we have
Won't hurt anymore

[Listening to: Simple Lies - Endo - Daredevil (04:08)]

4.9.03

De vos me aparto, ó vida! Em tal mudança
Camões

De vós me aparto, ó vida! Em tal mudança,
sinto vivo da morte o sentimento.
Não sei para que é ter contentamento,
se mais há de perder quem mais alcança.

Mas dou vos esta firme segurança
que, posto que me mate meu tormento,
pelas águas do eterno esquecimento
segura passará minha lembrança.

Antes sem vós meus olhos se entristeçam,
que com qualquer cous' outra se contentem;
antes os esqueçais, que vos esqueçam.

Antes nesta lembrança se atormentem,
que com esquecimento desmereçam
a glória que em sofrer tal pena sentem.

2.9.03

Ato I - Dúvida

Após a labuta, observa a fria noite morrendo para nascer o outro.

Oh, noite que vás, afugentada pela luz que hei de cortar, carregue com tua sombra o meu pesar, que apedreja a cela que me abriga. Vê alma minha crida em pó e não mais vida, ferida, espremida, gemida. Cantes canções esquecidas para almejar a sina já jazida. Corres sim, depressa, antes que sinta tua fresta machucada pelo que resta. Mas antes, vinde a mim, tão gélida escuridão, e tome os meus presságios em tua corda, sustentada pela última navalha a romper. E se por infortúnio, assim não fazes, onde hei de ir, se os teus rastros não enxergo? Deixarás na sarjeta eu que a tanto te contemplara sem perceber o feitiço que me lançara? Se minhas palavras perdem-se no entendimento, e em tuas vestes o teu detrimento, quem és tu senão o vulto e o tormento? A dúvida me alcançara sem demora, golpeando a faculdade e a religião. Agora, não recordo onde moro, apenas fito tuas vestes enfraquecem, e meus temores fortalecem na dúvida que me prendera na empresa de ontem. Que soe a trombeta e que suas ondas irrompam o teu céu até Calisto, que ensurdeça as frontes dos inimigos e que converta suas fortalezas em cinzas. O fim da minha espera não tarda, o fim do teu expediente sim. Tua negritude mistura-se com a juventude, fazendo fluir entre eles uma passagem quase ilusória. Então, nesta aberta fenda, acordo recostado em teu cajado - me fizeste hábil e me colocara nesta locação. Porém, agora, órfão de tua família, quem sou eu senão tua cria e visão? O nascimento está contemplado, enfim, saio da lucidez, para acompanhar em tua mudez.

(Peterson Foka)

1.9.03

Simples Ilusões
Peterson Foka


Quando pela brisa avistei
Quis não crer, além do real
Você flutou como uma ilusão
Não aquela que vivo,
Mas aquela que desejo.

A esperança não havia
Para quem você era, existia
Simples como a vida
Real como uma ilusão
Atrás da mentira que me movia.

O tempo suicida-se
Minha certeza puni-me
De que não posso viver com você
Não posso viver sem você
Em um livro falso de quem somos.

Suas palavras envenenaram-me
Somos quem escolhemos
E você escolheu esquecer-me
Sem livrar-se do nosso devaneio
É tudo o que temos.

[Listening to: Simple Lies - Endo - Daredevil (04:08)]