27.10.03

Há algo errado comigo?
Peterson Foka


Há algo errado comigo?
Eu lhe mostro o que você jamais pode ver
Quando me diz ser teu amigo
Não consegue esconder o que desejas ter.

Eu continuo acordando
Interrompendo essa insônia de incertezas
Ouço você sempre dizendo
Que nossas escolhas nunca foram as mesmas.

O que há com a vida?
Eu rasgo o teu retrato, mas ele sempre volta
Para perturbar esta ferida
Tantas formas trazem-te a revolta?

Há algo de errado contigo?
Você faz coisas que eu não posso entender
Conhece-me ao dizer que não ligo
Tão além de onde eu possa compreender

Eu continuo vendo
Tua dor estampada em minha mente
O céu estava morrendo
No dia que teu sorriso estava ausente.

Como acreditar no que não está certo?
Você é única razão da linha que se forma
No entanto, por que nunca está por perto
Quando o medo suga a vida que te torna?

Não sei até onde irá este inverno
Ainda sinto tuas lágrimas escorrendo em meu rosto
Ainda há o que talvez seja eterno
Até que a crua solidão revele o que não possa ser oposto.

26.10.03

Solidão
Alvares de Azevedo


Nas nuvens cor de cinza do horizonte
A lua amarelada a face embuça;
Parece que tem frio, e no seu leito
Deitou, para dormir, a carapuça.

Ergueu-se, vem da noite a vagabunda
Sem xale, sem camisa e sem mantilha,
Vem nua e bela procurar amantes;
É doida por amor da noite a filha.

As nuvens são uns frades de joelhos,
Rezam adormecendo no oratório;
Todos têm o capuz e bons narizes
E parecem sonhar o refeitório.

As árvores prateiam-se na praia,
Qual de uma fada os mágicos retiros...
Ó lua, as doces brisas que sussurram
Coam dos teus lábios como suspiros!

Falando ao coração que nota aérea
Deste céu, destas se desata?
Canta assim algum gênio adormecido
De ondas mortas no lençol de prata?

Minh'alma tenebrosa se entristece.
É muda como sala mortuária...
Deito-me só e triste, sem ter fome
Vendo na mesa a ceia solitária.

Ó lua, ó lua bela dos amores,
Se tu és moça e tens um peito amigo,
Não me deixes assim dormir solteiro
À meia-noite vem cear comigo!

my picture

[Listening to: Sense - Pete Yorn - Music Morning After (03:54)]

22.10.03

Paralelos Caminhos
Peterson Foka


Quando você voltou
eu não estava lá
Você temia outra chance
mas a vida já havia decidido

Quando você me pediu
eu não mais podia
O céu havia nos esmagado
nossas forças eram insuficientes

O tempo causara infortúnios
Fez-nos partir sem despedida
acreditar que haveria saída
para a doença que não se cura

Sim, ignoramos os caminhos
quando a juventude respirava
E agora, quando nos vemos
Tudo é completamente sem sentido

Teu olhar é minha dor
Minha presença a tua solidão
De tudo o que somos
Apenas um vazio nos preenche

O adeus é estéril
O sentimento sempre os trairão
Pois nossas almas são alimentos
Para os paralelos traçados...

[Listening to: On Your Side - Pete Yorn - musicforthemorningafter (05:03)]

16.10.03

Minha notável amiga, este vazio que tu sentes na alma é um adorável estágio. Quando a vida não parece ter sentido, apenas para nós, e o que tudo vemos são filmes estrangeiros, surgem em nossa consciência dúvidas, buscas por respostas. Assim, perdida em multidões de almas, tu choras por não compreender porque a tua está mais dispersa que as outras, comovendo o desejo a não mais continuar... Porém, em vestes rasgadas, caminhar continua (por força alguma que não mais sente) e, quanto mais profundo vê o teu oceano, mais valiosa torna tua jornada. Acredite, mesmo sem agradecer, o infortúnio que te acolhes não é um desperdício de força ou sabedoria - é justamente o inverso. Em teu desprazer de visitar a escuridão deste recinto, algo subitamente surgirá, e esteja preparada para isto. Somente quem procura respostas a encontra - somente quem está preparado a entende. Superficiais e ignorantes são aqueles que, por destino ou desejo, obtém da vida o fardo leve e com ele satisfeitos estagnam. Mas você, minha bela amiga, é o fogo que nunca se extingue, a geleira que nunca se derrete, a chuva que nunca cessa. Tua busca não será infinita, mas o suficiente para que possa alimentar tua alma - e sabedoria - para que possa enfrentar e vencer dos dias futuros...

15.10.03

Que Deus não permita que eu perca o ROMANTISMO, mesmo sabendo que as rosas não falam...
Que eu não perca o OTIMISMO, mesmo sabendo que o futuro que nos espera pode não ser tão alegre...
Que eu não perca a VONTADE DE VIVER, mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos, dolorosa...
Que eu não perca a vontade de AJUDAR AS PESSOAS, mesmo sabendo que muitas delas são incapazes de ver, reconhecer e retribuir esta ajuda...
Que eu não perca o EQUILÍBRIO, mesmo sabendo que inúmeras forças querem que eu caia...
Que eu não perca a VONTADE DE AMAR, mesmo sabendo que a pessoa que eu mais amo pode não sentir o mesmo sentimento por mim...
Que eu não perca a LUZ E O BRILHO NO OLHAR, mesmo sabendo que muitas coisas que verei no mundo escurecerão meus olhos...
Que eu não perca a GARRA, mesmo sabendo que a derrota e a perda são dois adversários extremamente perigosos...
Que eu não perca a RAZÃO, mesmo sabendo que as tentações da vida são inúmeras e deliciosas...
Que eu não perca o SENTIMENTO DE JUSTIÇA, mesmo sabendo que o prejudicado possa ser eu...
Que eu não perca o meu FORTE ABRAÇO, mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...
Que eu não perca a BELEZA E A ALEGRIA DE VER, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma...
Que eu não perca o AMOR POR MINHA FAMÍLIA, mesmo sabendo que ela muitas vezes me exigiria esforços incríveis para manter a sua harmonia...
Que eu não perca a vontade de DOAR ESTE ENORME AMOR que existe em meu coração, mesmo sabendo que muitas vezes ele será submetido e até rejeitado...
Que eu não perca a vontade de SER GRANDE, mesmo sabendo que o mundo é pequeno...
Que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente!
Que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e ransformar qualquer coisa, pois...

A VIDA É CONSTRUÍDA NOS SONHOS E CONCRETIZADA NO AMOR!

Francisco Cândido Xavier

4.10.03

Estava eu a passar sobre aquele irreconhecível lugar quando trombei com um vassalo da bebida. Débil, não conseguia nem mais pedir um trocado. Esticou um dedo e me tocou, e eu, no susto, pisei em sua mão. Um rugido ecoou, ainda que sufocado, me fazendo pensar ser um rato nos encanamentos enferrujados. O súdito gemeu como um cachorro atropelado, e, vendo aquela angustiante cena, tive náuseas. Enquanto se debatida entre a parede e o caixote que o escondia, eu procurava um beco pra verter o meu sustento. Após esvaziar o estômago, voltei para ver a situação do coitado, mas, estranhamente, encontrei apenas um rabiscado na parede: "Peste que me atormenta, da próxima vez traga um como de água ao invés de pisar na minha calejada mão".

[Listening to: For Nancy - Pete Yorn - title (03:28)]

3.10.03

Seguem as fotos do niver da Miriã no Sphera Choperia dia 27/09/03. Foi muito bom, principalmente após virar danceteria...

1.10.03

Eu precisei da tua ajuda, e você ignorou me. Eu precisei ouvir tua voz, e você se calou. Eu precisava sentir o teu calor, e você se apagou. Quantas vezes mutilei meu próprio orgulho por você... atropelei meus limites para te fazer sorrir. E agora, minha ávida recompensa não é menos tortuosa quanto minha indignação. Humilhação, talvez. Percebo agora, que o tempo é longo apenas se comparado ao todo - em uma parte de nossa história, é tão mirrado quanto o caule de um cravo. Ao pé da lareira, lanço as últimas insígnias do nosso passado - melhor sustentar-me com a falha lembrança, do que torturar-me com a sólida que desliza em meus dedos. Eu era tua razão, e você desconhece-me. Tornei-me uma máscara de personagem secreto, um diálogo de falas mudas. Se há ser mais baixo ao que rasteja por covas densas, então este é o meu rei. O reinado terá dias duradouros...