29.4.03

Certo dia estava lá eu, todo feliz pela situação que me esperava. Tinha apenas poucos anos de vida e a alegria me contagiava naquele lugar. Todos usando o tempo parar rirem, uns com os outros, e eu participava daquela loucura saudável. Bons tempos. Lembro me sentado no sofá daquela casa, com se fosse a minha própria, e me sentia bem só em respirar o ar que viajava pela sala. Essa boa lembraça torna-se triste neste momento em que, observando fotos atuais, vejo que todos ali continuam a gargalhar da vida, livres das prisões que o tempo nos "concede", mas minha presença não mais é permitida. Fico trancafiado em quatro paredes vendo quadros da vida lá fora, obtendo conhecimento de todas suas alterações mas sem participar. A cada dia que passa torno-me mais insignificante, mais descartável. O mais estranho é que tudo isso não me incomoda. Parece tudo fazer parte da minha índole e do meu destino.

28.4.03

Lí a pouco um informativo que dizia: "O tempo muda tudo o que você sonhou". Surge na minha cabeça uma dúvida em relação a esta afirmação: O tempo muda nossos sonhos ou muda nós mesmos? Será que hoje temos os mesmos sonhos de quando brincávamos de esconde-esconde? Será que daqui a 10 anos nossos objetivos serão os mesmos? Se assim não for, podemos dizer que "O tempo muda o que sonhamos". Nosso pensamento é alterado ao longo do percurso. As tragédias e realizações servem de experiência que aos poucos vão mudando nossa forma de pensar e enxergar os objetos da vida. Quando tinha 10 anos, via apenas uma linda maçã na fruteira me convidando para prová-la. Aos 15 anos, percebia que sua beleza ocultava algo: germes e seres invisíveis caminham sob sua lisa superfície. Aos 20, minha aguçada visão esclarecia-me de que estes vermes haviam infiltrado e contaminado uma pequena região da maçã. Um ano depois fico pasmo por ter sabido que toda a maçã está infectada pelos agrotóxicos usados em sua fertilização. Talvez daqui a alguns anos eu não me importe com nada disto e coma a maçã sem ziguezaguear. Ou talvez minha irmã apareça e a coma antes de mim, fazendo-me arrepender desses fúteis comentários. Não importa, de qualquer forma minha visão pelo que ansiava foi alterada, porém não o próprio. Por isso prefiro não sonhar, seja o que tiver de ser. A vantagem disso é que jamais terei decepções. Já a desvantagem... bom, resume-se apenas a uma palavra: insônia.

23.4.03

Minhas veias dilatam-se quando ouço uma vogal; o sangue bombardeia minha cabeça quando a palavra se forma; a lucidez deixa de existir quando a frase penetra em minha mente - desfaço-me em agudos traços nesta imaginação de risos incoerentes. Esta voz, que me persegue por incontáveis anos, ecoa quando há silêncio, pronunciando que sempre hei de lembrar do dia em que fracassei: permiti que a explicação do meu presente voasse com o seu ninhal. Meu orgulho traira-me quando me deixei de avisar que você esquecera aberta a porta do meu âmago. Fui tolo ao pensar que conseguiria quebrar esta faca que me fere a cada passo que dou. Desde àquela última chuva do inverno, prossigo tortuosamente em busca da chave deste amaldiçoado portão, mas sou incapaz de fazê-lo com estes sons me atormentando. Estas pragas sussurram em minha consciência deixando-me tão confuso... tão perdido... Todas as rosas achadas neste período são pretas e brancas. Desespero-me em saber que você também levara as cores. Por mais que eu persista, o resultado será sempre o mesmo: a opaca sensação de vazio. Prefiro sentir isto flutuando no nada do espaço do que acorrentado nesta prisão de perdidos. Aonde mais irei? Não há mais novos caminhos para quem os construiu. Não há mais luz para quem as apagou. Haverá esperança para quem a esqueceu?

22.4.03

Mais um feriado se passou e eu como sempre não fiz nada além do normal. Este blog anda meio abandonado pelo simples motivo da falta de tempo... normalmente quando me inspiro a escrever estou longe de casa em algum lugar que torna impossível passar os pensamentos no papel. Argh! Mas ainda tenho esperanças de um dia ter muito tempo para fazer essas coisas - quando for um velho aposentado. Enquanto isso, os dias continuam atacando o tempo com 86400 segundos.

12.4.03

"My mind is always racing
and my body's on overload
You've got my heart in the middle of a feeling
I've got no place to go"

(...)
"Ele a via como a última esperança para esta inescapável cilada. Aproximou, ainda com receio de ser ignorado mais uma vez e a surpreendeu com sua rouca voz:
- Que grande sorte minha de te encontrar! Qual novidade te traz aqui?
O susto foi demasiadamente visível quando ela quase caiu ao virar-se rapidamente:
- Nenhuma que seja de teu feitio - respondeu Alice, ainda confusa pelo imprevisto.
John sempre a admirava como a mais bela desde sua infância, e pode-se dizer que a conhecia tão bem quanto a si mesmo. Mas aquela rápida expressão o fazia pensar se alguma vez já tivera que identificar tal atitude:
- Sei que ainda guarda rancor, mas veja que pago por isso a cada dia que acordo. Já não é o suficiente?
Orgulhosa como sua mãe, Alice Rudenbell não aparentou piedade após sinceras palavras:
- Não pense que isto me faz sensível a ponto de perdoá-lo, realmente não sei quando serei capaz disto.
- Se você desse apenas uma chance a mim, a nós, saberia que sou capaz de fazer diferente - disse ele cabisbaixo. Sabia que fora cruel em sua atitude passada, mas não suportava a idéia de ter que pagar por isto desta forma - longe de seus olhares. Dificilmente ela o perdoaria, e isto o corroia por dentro. Quanto mais teria que pagar pelo seu erro?
- Estou apenas de passagem, preciso terminar algumas matérias no hotel e voltar para a redação. Tenho que ir! Partiu sem deixar olhares, e logo se perdeu meio a neblina daquela manhã."
(...)

4.4.03

"Ele soca o punho sobre postes, insistindo em ver fantasmas como hostes"

3.4.03

Não sei
Peterson Foka


Não sei se existo
ou se apenas persisto
neste mar sem compreensão
quem seduz-me em sua imensidão.

Não sei se apenas adormeço
ou se insisto no recomeço
neste leito de sofrimento
que apunhala o meu tormento.

Não sei se escolho a estrada
ou se viajo incerto da morada
na cadenciada chuva hostil
desta singular vida vil.

Não sei se aproximo a tua beleza
ou se deixo tudo esvair em tua grandeza
neste arrependimento de não ter feito
que suga lágrimas do meu peito.

Não sei se oculto meu flagelo
ou se liberto meu anelo
neste interminável corredor sem saída
desta moção jamais vivida.

Não sei se levanto em furor
ou se persisto perecer em ardor
neste jazigo incompreendido
que jamais será permitido.