31.8.05

Você, por não ter

Perturbada por sua presença
Minha mente confunde-se, sem saber
Que tudo está em sua ausência.
Não há vida feita que se possa ver
Através de um caminho emergido na distância
Como se apenas esta visão pudesse crer
Nesta aurora que me faz viver.

Não entendo. Não posso voltar.
Isto foi sempre tão frio e solitário.
Onde está a diferença, se não posso te tocar?
No desejo de com você estar
Ou na insanidade que faz lhe imaginar?

Lá fora não existe por não ter
Em toda sua forma algo que se possa ver
O seu contorno, o seu sorriso, o seu olhar
Posso ir mas não irei retornar
Apenas assim, continuarei a sonhar.

6.8.05

Eu posso usar uma confissão para expelir o oportunismo. Eu posso manipular uma decisão para desfazer a avidez. Eu posso contradizer a exatidão para arruinar a gratidão. Eu posso, enfim, perpetuar a angustia para aquele que afronta a própria sorte. Sorte esta lançada a uma hegemonia proveitosa, cuja esperteza é invisível a belos e tolos.

Diante a um ângulo que assombra a crueldade, não posso mais que ninguém, porém sei mais que alguém. Sei que o torvelinho do pensamento infantil adquiriu, através de uma traição, uma chama para o futuro próspero. Sei que a imaturidade tentou roubar-me a forma, fazendo-se amigo, quando na verdade era um rebento embevecido. Sei que tal gratidão oculta, em sua mais fina condição, um riso irônico, uma tentativa de causar submissão. Quando o tempo para, me pergunto como pode ser tão ávido a ponto de julgar-se superior a própria crença. Crença essa que, erroneamente, levará este e todo o rebanho para a uma fétida surpresa. A soberba deve estar alegremente flutuando pelo invisível, pois não ao acaso, o vento frio corta a singularidade e traduz um certo ceticismo em um eloqüente desvio.

Do mesmo lado da ponte, outrem, cuja aceitação ao fracasso chega a ser estapafúrdica, pinta a calçada na mesma tonalidade. Contorna um traçado que, subitamente, se estreita para a miragem de uma promessa tola. Eles acreditam. Eles seguem. Nesta linha, há algo que, gradativamente, alimenta meu ego negro - a certeza de que o início está fadado ao fim. E não distante. Pois estou do outro lado da ponte. Estou vendo.